Minha viagem pela Costa do Descobrimento foi cheia de contrastes e sabores. Com carinho especial pelo Quadrado, pedacinho de terra mais romântico da Bahia. Nesse post você vai conhecer praias paradisíacas e descobrir um pouco do que fazer, com um roteiro fora de série!
Trancoso
Como chegar
Nosso ponto de referencia vai ser Trancoso, fiquei hospedada lá e recomendo a todos, pois a paisagem no Quadrado é deslumbrante ao entardecer e destino ideal para um jantar. Geralmente quem fica hospedado em Arraial, visita Trancoso durante o dia e perde a parte mais legal do Quadrado, que ganha nova vida a noite.
Chegada pelo aeroporto de Porto Seguro. É possível descer de ônibus até a balsa para Arraial d’Ajuda, atravessar com a balsa, e partir de Arraial seguir de ônibus (Viação Água Azul) até Trancoso.
Também é possível fazer a travessia de taxi, o traslado do aeroporto para Trancoso custa em torno de R$150,00 (R$300 ida e volta). A diária de carro em Porto Seguro sai por 65,00, para uma semana vai ser um custo pouco maior que os traslados e muito menor e mais livre para o restante dos passeios, por isso vale muito a pena.
De Porto Seguro até Trancoso são 85 km, atravesse o Rio Buranhém de balsa (R $13,00 por carro + R$3,00 por pessoa) até Arraial d’Ajuda, de Arraial a Trancoso são 42 km de asfalto com alguns trechos de terra, mas a estrada é tranquila.
Pousadas
Com ares de hippie chique e suas românticas camas com voil, em Trancoso existem pousadas para todos os gostos e bolsos. Minha recomendação é escolher uma pousada perto do Quadrado, que é onde estão as opções para a noite no vilarejo. Seu deslocamento vai ser mais confortável, especialmente se estiver sem carro.
Quando ir
Para aqueles que buscam agito o grande movimento em Trancoso começa logo após o Natal e tem seu ápice no Réveillon. Para quem quer desfrutar da bucólica tranquilidade do Quadrado e das praias da região, vá fora de temporada.
Chove chuva….
Já vi posts sobre Trancoso relatando viagens com chuva em todas as épocas do ano, uns reclamam que chove muito em abril e maio, outros relatando dias seguidos de chuva em junho e julho, visitei essa linda terra em novembro e também choveu por lá, minha impressão é de que as chuvas esparsas acontecem o ano todo. Minha solução foi, amanheceu com chuva, faça passeios onde tem tempo bom e assim passei toda a viagem com lindos dias ensolarados! Não tem erro.
Já aprendemos o caminho, então agora vamos ao que interessa! Os destinos.
A Costa do Descobrimento cobre 90 km de praias incríveis e cheias de história.
É tratada como costa por não haver um ponto específico aonde chegaram as embarcações do “descobrimento”.
Os principais pontos que eu queria visitar eram:
Santa Cruz de Cabrália e sua aldeia Pataxó, Arraial d’Ajuda, Trancoso, Praia do Espelho, e Caraíva.
Santa Cruz de Cabrália
Vou apresentar pra vocês meu roteiro seguindo a sequência das cidades, de norte a sul na costa. Mas a verdade é que não visitei os lugares nessa sequencia, deixamos o roteiro mais livre pra ir onde e quando tivéssemos vontade. Cabrália eu visitei quando já estava há uns três dias na região, depois de ter conhecido um rapaz índio (sou uma vergonha pra me lembrar de nomes) trabalhando como garçom em Arraial. Fiquei impressionada ao saber que ele tinha nascido e vivido toda a vida na aldeia, porque se ninguém falasse, nem daria pra perceber. E ele me explicou que a aldeia Pataxó de Coroa Vermelha era a única da região que ainda mantinha seus costumes preservados, na aldeia dele, por exemplo, somente os mais velhos ainda sabiam falar sua língua nativa. Assim sendo, lá fui eu, com a minha expectativa de conhecer a Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha em todo o seu esplendor.
Sem nenhum demérito á região, que é um grande atrativo turístico brasileiro, me assusta muito pensar que nosso primeiro ponto de civilização seja ainda tão incipiente em desenvolvimento. A exceção dos hotéis e restaurantes turísticos luxuosos no caminho, as opções para a população local são bastante escassas.
Imagine então a decepção da minha primeira impressão com a aldeia, muito simples, pequena e humilde, casinhas espaçadas e nada da preservação que eu imaginei.
Fomos muito bem recebidos, o comportamento e o discurso que vi do nosso anfitrião era muito atual e politicamente correto.
“Obrigada por vocês chegarem até aqui, nosso esforço pra preservar nossa cultura é pra que pessoas como vocês possam conhecer a nossa história.”
É claro que é um discurso ensaiado, mas com um pouco mais de conversa e observando os hábitos deles, notei claramente que é um grande esforço morar em um ambiente tão rústico, manter viva uma língua que ninguém fala, cultivar tradições que ninguém acredita, e se comportar de uma maneira que poucos respeitam, tendo uma oferta tão grande de uma vida mais confortável a poucos passos de distância. Recebi o pacote turístico completo, fui vestida e pintada de Pataxó, conheci os artesanatos locais, fizemos fotos pela tribo, atiramos de zarabatana, e em momento algum ninguém nos cobrou nada. Pra minha surpresa o objetivo não é financeiro, e pouco, pra não dizer nada, vi a presença de dinheiro público no local. Fiz minha contribuição voluntária, comprei meu artesanato, porque era lindo e voltei pro meu mundo com a impressão de desapontamento substituída por admiração.
Porto Seguro
Apesar de não fazer parte do meu roteiro Costa do Descobrimento, passei pelo litoral literalmente cortado pela Avenida Beira Mar, de um lado estão os hotéis e resorts e do outro a praia tomada pelos bares e boates como Tôa Tôa e Axé Moi, é um destino pura agitação repleto de muito axé music!
Arraial d’Ajuda
Com um perfil mais tranquilo que Porto Seguro e menos bucólico que Trancoso, Arraial é um meio termo localizado entre esses dois extremos. Com belas praias e barracas (em toda a região os quiosques são chamados de barracas) bem estruturadas a praia de Mucugê é uma ótima opção perto do centro, mas é preciso se acostumar ás algas.
A noite em Arraial é bem mais agitada que em Trancoso, a rua Mucugê oferece uma variada opção de bares e restaurantes para todos os estilos.
Muito se fala sobre os altos preços praticados em Trancoso e que Arraial é um destino menos salgado, mas minha experiência por lá, tanto de dia nas barracas, quanto a noite nos restaurante mostrou uma diferença bem pequena de valores.
Trancoso – Amor ² (Amor ao Quadrado)
Trancoso é um lugar onde a simplicidade é chique e sem hostentação.
É uma vila de praia construída a partir do Quadrado. Uma praça com igreja, emoldurada por casinhas coloridas, construída num platô no alto da falésia, de onde se tem uma linda vista do rio cortando a praia e alcançando o mar.
A famosa igrejinha foi construída pelos jesuítas sobre as ruínas de um convento há quatro séculos, num período em que Trancoso era ainda uma aldeia indígena.
As casinhas coloridas que abrigavam as famílias do povoado e carregam consigo histórias de gerações, hoje, embelezam o cenário que é quase uma pintura e a noite se transformam em restaurantes charmosos e aconchegantes de gastronomia requintada e lojas badaladas como Carmim e Osklen.
Os restaurantes começam a abrir por volta das 15h, mas, o horário do local é ao pôr do sol. Ao contrário do que acontece nos outros lugares, fora de temporada, o movimento da noite no Quadrado começa e termina cedo, por isso não deixe pra sair muito tarde.
O Quadrado é tombado pelo patrimônio histórico, a iluminação é escassa e o charme fica por conta da luz de velas. Carros e motos por aqui não passam.
Tudo que eu provei nesse lugar foi delicioso, dos pratos requintados dos restaurantes á tapioca da barraquinha na praça. Nas minhas comilanças fugi dos tradicionais e comentados restaurantes como o El Gordo e o Capim Santo e experimentei delícias regionais em restaurantes charmosos no Quadrado, com respeito especial ao Bobó de camarão com farofa de banana do Cantinho Doce. Nota 10! (Cometi o crime de não registrar).
Recomendação mais econômica é, na barraquinha de tapioca experimentar um recheio que leve o creme de berinjela, super especial.
Praias
Á moda de Trancoso nas areias da praia as barracas oferecem pufes e cadeiras com confortáveis almofadas sob gazebos.
A praia mais próxima do Quadrado é a Praia dos Nativos (1200 m), é também a praia mais movimentada, pois é lá que desembarcam os ônibus de excursão.
Seguindo um pouco mais temos a Praia dos Coqueiros, mais tranquila que a primeira e com preço acessível, as barracas oferecem estrutura charmosa e confortável com poltronas, almofadadas e wi-fi sem a obrigatoriedade da consumação. O stand up paddle é uma opção divertida pra quem curte esportes na água, mas vou logo avisando, não é fácil!
A Praia de Rio Verde tem acesso exclusivo pelas pousadas e restaurantes, nas barracas é cobrada consumação, em torno de R$500 por mesa.
Partindo do Quadrado O acesso a todas as praias se faz atravessando pontes sobre o mangue, durante o dia a travessia é muito fácil. Para os que curtem uma boa caminhada é possível fazer o percurso a pé de Trancoso até Arraial, com a maré baixa, e seguir por todas as praias. Mas é uma experiência que não me pertence.
A última praia de Trancoso é a Praia do Espelho, a vista do mirante é de um paraíso de água doce e salgada. É considerada uma das 5 praias mais lindas do Brasil.
Descendo a falésia e chegando á praia tem uma barreira de corais que com a maré baixa forma espelhos d’água, conforme a maré sobe as piscinas rasas de água morna vão desaparecendo e ganhando a imensidão do mar. Vale a pena levantar um pouco mais cedo e apreciar a mudança no cenário.
A distância da Praia de Rio Verde a Praia do Espelho é bem grande, por isso acho que compensa alugar o carro (estacionamento R$20). Pra quem prefere outra opção há muitas vans e pousadas que oferecem o passeio. Na Praia do Espelho as barracas são limitadas e também funcionam no sistema de consumação, em torno de R$200,00 por pessoa.
Minha opção foi passar a metade do dia na Praia do Espelho e seguir para Caraíva, próxima cidade depois de Trancoso e último destino do roteiro pela Costa do Descobrimento.
Caraíva
Caraíva é uma vila de pescadores, destino bem menos badalado que os anteriores, seu charme está no ar de interior, mas não se engane, na praia também há opções bem requintadas.
O acesso á vila é atravessando de barco o rio Caraíva, suas águas vermelhas de mangue dão ao mar uma cor terrosa e escura, mas é uma praia muito limpa.
Atravessando um caminho com casinhas coloridas que lembram as do Quadrado chegamos á praia, que oferece tendas rústicas e coloridas com esteiras de palha e almofadas num estilo hippie e confortável, regado à boa comida e boa bebida. O destino do fim de tarde aqui é curtir o por do sol nos bares a beira do rio.
A estrada que leva a Caraíva (46 km) é de terra e bem esburacada, com chuva alguns trechos devem ser bem difíceis. A paisagem é muito bonita e a sensação é de que em algum momento você vai chegar a uma fazenda baiana daquelas de novela.
No caminho tive uma grata surpresa. Desde que incorporei o projeto de montar minha casa, sempre que viajo penso em trazer alguma coisa legal do lugar pra compor meus espaços, (detalhe, ainda nem comecei a construção, mas isso é história pra outro post) tento evitar “souvenires de estante” e encontrar alguma coisa que eu goste e seja típica. Em Trancoso, toda casa, pousada, bar ou restaurante tem uma luminária de bambu, e eu decidi que queria uma colocar na minha varanda e criar um ambiente legal pra usar a rede que eu trouxe da viagem pra Natal/RN (essa é outra que merece um post por aqui, em breve eu faço). Na entrada da cidade e também no Quadrado, encontrei lojinhas com minhas luminárias objetos de desejo, mas eu estava me recusando a pagar mais de R$300 numa peça rústica de bambu. Eis que no caminho para Caraíva, em um povoado chamado Itaporanga tem uma barraquinha de beira de estrada repleta das tais luminárias, fruto do trabalho dedicado da Léizina e de sua família. Ela vende para as lojas de Trancoso, que por uma questão geográfica podem agregar valor ao trabalho dela e revender por um precinho bem mais salgado. Para aqueles que gostarem do item e forem a Caraíva, visitem a barraquinha da Léizina que é um amor de pessoa!
O roteiro termina aqui!
O que posso dizer é que o clima, o povo, a natureza e a boa comida, fazem a visita a esse pedaço do Brasil, onde estão as raízes da nossa história, valer muito!
Espero que tenham gostado, e se ficou alguma dúvida é só postar nos comentários que eu respondo!
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Bjos e até a próxima!
Simone Sales diz
Oi, Irene! Boa tarde! Adorei seu post!
Gostaria muito de comprar aquelas luminárias de bambu que você citou. Você teria o contato da Leizinha.
Irene Moraes diz
Ei Simone! Tudo bem? Infelizmente não tenho o contato da Leizinha. Ela vive em uma vila tão longe de tudo que não tem internet e nem telefone lá. Uma pena mesmo. É daquelas coisas que só se consegue pessoalmente. Abraços!!!